Mesmo após recuo do presidente, polícia queniana atira em manifestantes
O recuo por parte do presidente do Quênia do plano de aumentar impostos foi insuficiente para encerrar os protestos em todo o país nesta quinta-feira (27), quando pelo menos duas pessoas morreram em confrontos perto da capital, Nairóbi, e outras foram baleadas pela polícia em outros locais.
Um dia depois de o presidente, William Ruto, ter desistido de um projeto de lei de elevação de tributos, manifestantes em Nairóbi, Mombasa, Kisumu e outras cidades pediram a sua renúncia, embora a quantidade de pessoas nas ruas tenha sido menor do que em dias anteriores.
A polícia disparou gás lacrimogêneo em dezenas de manifestantes em Nairóbi, e bloqueou vias que levam ao palácio presidencial. Na cidade de Homa Bay, no oeste do país, a polícia disse que membros das suas forças atiraram em manifestantes que tentavam incendiar carros da corporação.
“Posso confirmar que sete pessoas foram internadas com ferimentos à bala. A polícia abriu fogo quando os manifestantes tentaram queimar carros da polícia”, disse Hassan Barua, comandante policial de Migori.
O jornal The Standard informou que duas pessoas morreram no confronto da polícia com manifestantes que saqueavam dois supermercados em Ongata Rongai, uma cidade nos subúrbios de Nairóbi. A polícia não respondeu imediatamente à solicitação para que comentasse o caso.
Ruto desistiu do projeto de lei na quarta-feira (26), um dia após o Parlamento ter sido invadido e incendiado durante a tentativa de votação. Pelo menos 23 pessoas morreram. A desistência prejudicou os planos do presidente de reduzir o déficit orçamentário e o endividamento, algo solicitado por credores, incluindo o Fundo Monetário Internacional.
Repórteres da Reuters viram veículos do Exército nas ruas depois de o governo ter convocado as Forças Armadas para ajudarem a polícia.
“Não é bom que militares se envolvam em assuntos civis. Não estamos em guerra. Estamos em tempos de paz”, afirmou o motorista de mototáxi John Ngugi
Centenas de manifestantes se juntaram na cidade portuária de Mombasa e no município de Kisumu, no oeste do país, de acordo com imagens das emissoras de televisão locais, em atos que aparentavam ser pacíficos.
“Só estamos vindo aqui para que nossa voz seja ouvida. Nós, da geração Z. Nós, os quenianos. Nós somos um só”, afirmou Berryl Nelima, em Mombasa. “Então a polícia pode parar de nos matar. Somos apenas manifestantes pacíficos, estamos desarmados.”
Os protestos não têm liderança formal e foram uma resposta a mensagens postadas nas redes sociais.
Em discurso na quarta-feira, Ruto defendeu o aumento da tributação sobre itens como pão, óleo de cozinha e fraldas, dizendo que era preciso diminuir o déficit do país, que dificultou a tomada de empréstimo e prejudicou a moeda.
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